Com crescimento acelerado da população idosa, Brasil precisa repensar políticas públicas, arquitetura e modelos de convivência para garantir autonomia, bem-estar e inclusão social.
O Brasil está envelhecendo em ritmo acelerado, e talvez não estejamos dando a devida atenção a isso. A cada ano, cresce o número de pessoas com mais de 60 anos no país, e essa tendência não vai recuar. No Espírito Santo, por exemplo, o aumento da chamada geração prateada foi de 70% entre 2010 e 2022, segundo o IBGE.
Essa nova realidade social e demográfica exige adaptações em várias áreas: da saúde à arquitetura, da mobilidade ao mercado de trabalho. Um dos campos mais desafiadores, no entanto, é o da moradia. Afinal, onde e como queremos que os idosos vivam?
Por muito tempo, o envelhecimento esteve associado a um cenário de limitações, solidão e dependência. Casas de repouso, geralmente, representavam o último recurso – quase sempre acompanhado de culpa familiar e preconceitos sociais. Mas os próprios idosos vêm mostrando que querem mais: mais autonomia, mais convivência, mais vida compartilhada.
Modelos de moradia que respeitam a individualidade e o ritmo de cada pessoa surgem como alternativas necessárias. Eles substituem o controle rígido por rotinas flexíveis, como escolher o horário do banho ou o cardápio da refeição. Além disso, oferecem acompanhamento especializado em saúde, estímulo cognitivo e atividades de convivência.
O desafio é romper com a ideia de que o idoso deve estar isolado ou ser privado de escolhas. Isso inclui permitir o contato constante com familiares, participação ativa em decisões sobre seu cotidiano e acesso a atividades que estimulem a mente e o corpo.
Outro ponto importante é o papel da arquitetura e do urbanismo. Não basta criar espaços acessíveis, é preciso pensar em ambientes que convidem à convivência, que proporcionem bem-estar e que estejam inseridos na cidade – não escondidos dela.
Estamos atrasados nesse debate. Enquanto outros países já se preparam para ser sociedades longevas, o Brasil ainda engatinha em políticas públicas consistentes para essa fase da vida. Mas o tempo não espera: a população está envelhecendo agora.
Envelhecer é inevitável, mas o modo como cada um viverá essa etapa ainda depende de escolhas coletivas. O futuro que construiremos para os idosos é o mesmo que um dia nos acolherá.
Priscilla de Aquino Martins é médica e co-fundadora da Mo’ã – Residência de Vida Ativa
Fonte: https://informe365.com.br/a-urgencia-do-envelhecimento